sábado, outubro 25, 2014

Como será o amanhã?


O mundo não vai acabar se Dilma for reeleita, e nem Aécio, se eleito, vai acabar com o que foi feito de bom.

Portanto, esqueçam o que disseram um do outro nas últimas semanas

Como no lindo samba-enredo da União da Ilha do Governador, também estamos incertos quanto ao nosso futuro imediato.

Só sabemos que, como em outro belo samba, este de Chico Buarque, “amanhã há de ser outro dia” — para uns, de esperança e comemoração; para outros, de tristeza e até de ódio, em um país que, ao que tudo indica, estará partido ao meio e tomado por problemas de difícil solução.

Ganhe quem ganhar, não vai ser fácil curar as feridas abertas por uma campanha dilacerante.

Os candidatos se machucaram, se desqualificaram, se desconstruíram com uma ferocidade poucas vezes vista, e a intolerância transbordou para as ruas, contaminando relações pessoais e desfazendo ou abalando velhas amizades.

Os cínicos dirão que em política é assim mesmo: o inimigo de agora é o amigo de daqui a pouco e vice-versa, como provam alguns dos aliados atuais, que foram desafetos inconciliáveis em eleições passadas.

Porém, para os que não fazem parte do jogo político, apenas observam e torcem, a cicatrização é mais demorada.

O consolo em todo caso é que o mundo não vai acabar se Dilma for reeleita, e nem Aécio, se eleito, vai acabar com o que foi feito de bom.

Portanto, esqueçam o que eles disseram um do outro nessas últimas semanas.

Eu não queria estar no lugar de quem irá enfrentar aquele Brasil de que pouco se falou nos debates: o da grave crise.

Acho que um lado precisará do outro, seja quem prometeu conservar mudando ou quem disse que mudaria conservando o que foi mudado.

O cenário descrito pelos economistas é desanimador — retração da indústria, baixa taxa de investimentos, crescimento da inflação, juros altos, aumento nas tarifas e muito escândalo — e vai exigir medidas severas e indigestas.

Palavras como reforma, ajuste, reajuste vão estar na ordem do dia, e temo que elas sejam o eufemismo de “austeridade”, que infelicitou países como Portugal recentemente.

Quem passou por lá pôde ver o que essa política produziu de cortes em pensões e aposentadorias, em elevação de impostos e de desemprego.

Estou escrevendo sem ter visto o último debate dos presidenciáveis, sem saber, portanto, se esses temas foram finalmente abordados.

Assisti, porém, ao dos candidatos ao governo do estado, e tomara que Dilma e Aécio não tenham repetido Pezão e Crivella, que romperam o pacto de não agressão com trocas de gentilezas do tipo “testa de ferro”, “mentiroso”, “puxa-saco”.

Será que é de campanhas eleitorais assim que o Rio e o Brasil precisam?

Como no samba, “responda quem puder”.

Zuenir Ventura - O GLOBO



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